Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios
Link: Com reformas residenciais, franquias de construção bombam na quarentena
A arquiteta Aline Bontempo, do escritório A3 Arquitetura e Interiores, atua há cerca de 12 anos na região do Distrito Federal em projetos para escritórios e residências, e se surpreendeu com a demanda por reformas durante a pandemia. “No início foi assustador, tudo parou, mas de dois meses para cá todo mundo parece que ficou inquieto, querendo ir para um apartamento maior ou arrumar aquele em que está morando para deixar mais confortável. Desde março, a procura [por reformas] cresceu 60%”, afirma.
Ela mesma aproveitou o período para mudar de apartamento e trocar todas as portas da casa dos pais, em Passos, no interior de Minas Gerais. “[O mercado] deu aquela estacionada no início. Foi terrível, mas agora começou a se mexer bem.”
Demandas como as que Aline tem recebido – e gerado – na quarentena impulsionaram o negócio da Pormade, empresa de fabricação e vendas de portas que atua por meio de franquias.
Entre março e agosto, a Pormade dobrou o número de franqueados e teve um incremento de vendas nas lojas de 488%, se comparado com o mesmo período em 2019. “Em dezembro do ano passado, eram 19 lojas. Em julho chegamos a 30, sendo 10 franqueadas. Atualmente, estão sendo negociadas mais sete franquias”, diz a diretora financeira e de marketing da marca, Beatriz Bollbuck. As unidades físicas funcionam como showroom para venda de portas.
Na visão da rede, um fator que impulsionou esse crescimento foi o home office compulsório, adotado pelas empresas durante a pandemia. Os profissionais e empreendedores precisaram adaptar espaços dentro de casa para trabalhar e também para que os filhos pudessem estudar.
“Para suprir esses dois fatores, observamos que muitas pessoas também decidiram reorganizar o espaço que já tinham: transformar um quarto em escritório e ambiente de estudos ou dividir um cômodo entre sala e escritório, por exemplo. Essas pequenas adequações fizeram com que portas, rodapés e outros itens que temos no catálogo se tornassem necessários ao cliente”, afirma o diretor presidente da Pormade, Claudio Zini.
A mudança no perfil de consumo também refletiu no tíquete médio da marca: se antes era em torno de R$ 6 mil a R$ 7 mil, agora passou para R$ 3 mil a R$ 4 mil. “No entanto, houve um aumento no volume de clientes por loja. Antes, era cerca de 40 clientes por mês. Durante a pandemia, esse número chegou facilmente a 70”, afirma a diretora da rede.
Os dados fazem coro com o último balanço divulgado pela Associação Brasileira de Franchising (ABF). De acordo com a entidade, o segmento de Casa e Construção anotou um crescimento de 36% em julho, em relação ao mesmo período do ano passado, motivado por reformas residenciais e adequações para o home office.
Em muitas cidades, as lojas de material de construção foram consideradas serviços essenciais e conseguiram manter as operações abertas, mesmo com restrições de atendimento.
A Disensa é uma delas. A rede de franquias de conversão – que transforma pequenas lojas de bairro em unidades da marca – pertence ao grupo franco-suíço LafargeHolcim e tem 130 pontos de venda no Brasil. Durante a pandemia, conseguiram chegar ao mercado paulista, com uma loja em Mogi das Cruzes (SP).
O faturamento das unidades cresceu 34% no segundo trimestre de 2020, quando comparado ao mesmo período do ano anterior. No primeiro semestre, a rede registrou um crescimento de 28%. Na visão do gerente geral da empresa no Brasil, Henrique Gutierres, fatores como o auxílio emergencial e o isolamento social foram determinantes para esse resultado.
“Percebemos que houve um aumento de compradores com baixa renda. Além disso, vimos subir muito a venda por itens de pequenas reformas e reparos”, diz. De acordo com ele, itens para pequenas reformas domiciliares foram os campões de venda, mas materiais como cimento, areia e argamassa também cresceram. Para dar conta da demanda, eles digitalizaram o processo de venda, com atendimento via WhatsApp para diversas etapas, desde cotações até pagamentos.
O cliente pessoa física era pouco comum na Casa do Construtor, rede de aluguel de equipamentos para construção civil, mas foi um perfil importante para a manutenção das lojas no período. “Muitas pessoas, por ficarem mais em casa, resolveram reformar ou realizar pequenos reparos nas residências. Nosso portfólio de equipamentos está muito focado neste tipo de tarefa”, afirma o CEO da rede, Altino Cristofoletti.
Na média, a Casa do Construtor teve queda 20% no faturamento nos primeiros meses da pandemia e começou a ver uma retomada em junho. Em abril e maio, houve um aumento de procura de clientes pessoa física e também de empresas sem ligação com a construção civil, que aproveitaram a quarentena para realizar reparos nos espaços físicos, de acordo com o empreendedor. “O número de contratos realizados para pessoas físicas não ligadas à area cresceu 20% e o número de contratos para PJ não ligadas à construção teve crescimento de 40%.”
Até mesmo as piscinas saíram ganhando durante esse período. Em março, a iGUi Piscinas registrou uma queda de 23% nas vendas, mas começou a mostrar melhora em abril (-9%) e passou a subir em maio (+49,68%). Em junho, eles tiveram um mês histórico, com aumento de 123%, e agosto repetiu o feito, com 215% de aumento nas vendas, em comparação ao mesmo mês em 2019.
“É interessante que, em regiões como a da fábrica de Prata, em Minas Gerais, que atende essa parte do Estado, além de uma parte do Centro-Oeste e Tocantins, houve um aumento de vendas de modelos mais sofisticados da iGUi, mas no geral os modelos mais simples têm vendido mais”, destaca o CEO da marca, Filipe Sisson.
A iGUi tem uma financeira própria e atua com bancos parceiros. Isso, na visão dele, proporcionou a entrada de um novo perfil de consumidor durante a quarentena. “Nós entendemos que nessa pandemia, famílias de menor renda que inicialmente não pensavam em fazer um investimento como esse, entenderam que tornar o lar mais confortável, com mais lazer, mais bonito, completo e valorizado com uma piscina era o melhor a fazer.”
Além das redes de franquias, o setor como um todo viu números favoráveis nos últimos meses. O Índice de Confiança da Construção (ICST), divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), subiu 4,1 pontos em agosto. Dessa forma, de acordo com a entidade, o setor já tinha conseguido recompor 82% das perdas registradas entre março e abril.