Modelo de franquias amadurece no Rio Grande do Sul
Redes gaúchas apostam em expansão rápida, enquanto as marcas de fora miram o ambiente de menor concorrência local
Lucas Siqueira (e) e Jader Lewis, da barbearia La Mafia, contam com oito unidades e devem lançar mais cinco
Samuel Lima
Brigas por território e influência são cenas quase certas em filmes de máfia no cinema. Como não lembrar da família Corleone, de O Poderoso Chefão (1972), lutando pela supremacia na América? Pois a barbearia La Mafia, de Porto Alegre, inspirada nesse e outros clássicos do gênero, parece também ter herdado, guardadas as proporções, esse desejo de expandir os negócios. Desde setembro de 2014, quando começou a operar na avenida João Wallig, a marca já atende exclusivamente o público masculino em oito barbearias, espalhadas em seis cidades, inclusive uma no Paraná. E pretende lançar outras cinco unidades ainda este mês.
É difícil imaginar que os sócios-proprietários da La Mafia, Lucas Siqueira e Jader Lewis, conseguiriam aumentar de forma tão rápida o número de estabelecimentos investindo com o próprio bolso. Em 2014, quando era apenas uma ideia criar uma barbearia que aliasse serviço de qualidade com entretenimento – os salões incluem mesa de sinuca, futebol de mesa, videogame, fliperama e churrasqueira de uso liberado -, eles tiveram de suar para conseguir o investimento inicial, que completaram com o apoio do amigo Aloísio dos Santos, jogador de futebol criado nas categorias de base do Grêmio. Na verdade, grande parte do salto se deve ao investimento em franchising, canal que já movimenta R$ 151,2 bilhões por ano no Brasil. “Fomos pela ideia de expansão, pela oportunidade de acelerar os passos”, conta Siqueira, 30 anos.
O franchising é um canal em que o dono de uma empresa cede o direito ao uso da marca e à distribuição de produtos e serviços para um investidor, mediante remuneração prevista em contrato. Além de permitir a utilização de nome e identidade visual, o franqueador também se compromete a repassar a experiência adquirida aos franqueados, por meio de cursos, treinamentos e acompanhamento regular. “Franqueado não é sócio, nem empregado. É um parceiro de negócio que usa a sua marca e trabalha dentro de um padrão”, define o consultor em franquias da Franchise Solutions, Pedro Almeida. Também é comum que a rede de franquias mantenha um caixa único para verbas de publicidade, gerida pelo núcleo da rede.
Foi dessa maneira que gigantes do setor como O Boticário, Subway e Cacau Show se tornaram marcas tão conhecidas e presentes em meio aos brasileiros. E o sucesso dessas e outras empresas também ajudou a impulsionar o setor, que apresenta crescimento ininterrupto, em termos de faturamento e número de unidades, pelo menos desde 2012. Nesse período, a movimentação financeira total cresceu nominalmente 41% – em termos reais, cerca de 8,4%. Já as unidades passaram de 104,5 mil para 142,5 mil em quatro anos, incremento de 36%. A tendência deve se manter em 2017, considerando aumento de 9,4% no faturamento no primeiro trimestre do ano (R$ 36,9 bilhões), em comparação com o mesmo período do ano passado.
A região em que o franchising está mais consolidado é no Sudeste, mas o Rio Grande do Sul já é o quinto estado com maior número de unidades franqueadas do Brasil, de acordo com relatório da Associação Brasileira de Franchising (ABF) relativo ao ano passado. “O franchising tem essa questão da padronização e transferência de know how, mas se justifica mesmo no ganho de escala. Quando uma rede esgota, ocupando todos os lugares perto de onde nasce, ela busca outros”, explica a diretora da ABF Sul, Fabiana Estrela, que vê mercados consolidados, como Rio de Janeiro e São Paulo, “um pouco saturados” atualmente. Os gaúchos respondem por 5,4% do total de lojas no levantamento, que analisou apenas as redes associadas, o equivalente a 4.260 unidades. A ABF também aponta que os gaúchos tem 4,7% das redes franqueadoras, 142 no total, figurando novamente na quinta colocação.
Sistema proporcionou upgrade para fabricante de piscinas
A iGUi, que nasceu em 2008, em Gravataí, conta com 650 unidades
Trabalhando desde os 17 anos com a fabricação de piscinas, Filipe Sisson decidiu, há 36 anos, ao lado de cinco sócios, criar uma empresa que se transformou em uma das maiores redes de franquias do País, a iGUi. Eles desenvolveram o negócio em Gravataí, fabricando piscinas e distribuindo em revendas autorizadas – até que, em 2008, Sisson conheceu alguns paulistas que o fizeram investir no sistema de franquias. “Demos um upgrade”, conta o presidente da empresa.
No início, o trabalho foi, basicamente, convencer em torno de 200 revendedores a institucionalizarem os locais e darem exclusividade nas vendas – o que ele faz questão de dizer que não foi nada fácil. “Convencer o pequeno comerciante a largar o nome para colocar o teu é mais difícil. Hoje, com a exposição de marketing que temos, não precisamos dar muita explicação”, conta ele. A iGUi tem 650 franquias no Brasil, somando as lojas tradicionais da marca, as que trabalham com a linha mais popular Splash e as da rede iGUi Trata Bem, especializada em manutenção de piscinas em geral e vendas de produtos químicos.
Para Sisson, essa diversificação da oferta, incluindo serviços, por meio do canal de franquias foi justamente o que fez a empresa atravessar o auge da crise sem afundar. Ele diz vender, hoje, o mesmo número de unidades que em 2012, mas o faturamento bruto caiu entre 5% a 10% nos últimos cinco anos. “É um resultado satisfatório – a construção civil caiu 60%. Conseguimos conter com a diversificação”, afirma. Para ele, o maior desafio em ter uma rede de franquias é a responsabilidade maior sobre a venda no balcão. “Somos responsáveis pela marca em todo lugar. Mas no final das contas tem vantagem, funcionar dentro do próprio expertise é mais”. O investimento em uma loja da marca em uma cidade de médio a grande porte gira em torno de R$ 300 mil.
Fonte:Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/07/economia/572588-modelo-de-franquias-amadurece-no-estado.html)